segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dom quixote e o Sancho Pança


"Neste meio tempo, Dom Quixote começou a persuadir um lavrador seu vizinho, homem de bem (se tal título se pode dar a um pobre), mas de pouca inteligência, a sair consigo como escudeiro: tanto lhe martelou, que o pobre coitado concordou. Dizia-lhe, entre outras coisas, que deveria ir de bom grado, pois poderia ocorrer de ter a sorte de ganhar uma ilha, da qual poderia ser governador."

Qual Dom Quixote, também por vezes surgem almas que se pensam salvadoras de "coisa nenhuma", porque, pura e simplesmente, vêem também um mundo ao contrário. Onde está o bem eles encontram o mal, onde está o oportunismo eles vêem oportunidade, onde está a cunha, eles vêem o favor ao amigo.

A ilha, da qual Sancho Pança seria o governador, não passa de uma miragem, os gigantes que afinal eram moinhos, não passam de pequenas migalhas, que aos olhos de Dom Quixote são grandiosos monstros a conquistar para chegar à fortuna.

Infelizmente o nosso país está repleto de Dom Quixotes, lutadores por causas vãs, sem sentido e sem realismo.
O primeiro-ministro veio pedir o esforço a todos os portugueses, "é preciso apertar o cinto", no entanto o próprio governo propõe a criação de um novo cargo para os amigos dos deputados - o secretário adjunto do deputado.

A DECO e outras organizações de defesa do consumidor lutam diariamente a defender os cidadãos que, pelo desemprego e por outros factores, se vêem impossibilitados de cumprir com as sua obrigações de crédito, por exemplo à habitação, no entanto, são despojados de todos os seus (poucos) haveres levando muitas famílias à fome, à miséria e à degradação tal que por vezes culmina em suicídio, no entanto, os senhores do dinheiro perdoam dívidas de 12, 30 e mais milhões de euros, ao amigo do filho da ..., e tudo fica bem... temos o direito a estar calados.

A persiguição aos Jornalistas, a visita da polícia realizada às instalações dos sindicatos a repressão policial em Montemor, típico do Estado Novo, deve ser apelidada sem qualquer pejo, de uma forma de neofascismo.

Somos mesmo um povo de brandos costumes, a maioria dos portugueses não passam de "Sancho Pança", continuam a ver que estão a ser roubados e enganados, mesmo assim continuam a seguir o mestre. Uns na esperança da "Herança Prometida", outros porque já estão demasiado comprometidos para sair.

O presidente, talvez à espera de um segundo mandato, diz "Amén" a tudo, gabando o trabalho do primeiro-ministro, e este elogiando a actividade passiva do presidente, num claro exemplo de "Asinus asinum fricat" .

É uma vergonha o que se passa no País, precisamos urgentemente de um novo "25 de Abril".
Como canta o poeta,
eles comem tudo,
eles comem tudo,
eles comem tudo
e não deixam nada.
Dixit

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